Ir à fonte da renovação
Refª: CE2020B-002
Caríssimos Diocesanos,
Com a Quaresma entramos num grande tempo de renovação da nossa vida
espiritual pessoal e comunitária. Estes quarenta dias são-nos oferecidos para
nos aproximarmos mais intimamente de Deus, escutar mais atentamente a sua
Palavra, acolher mais sinceramente o seu amor, sentir mais profundamente a sua
presença, amar mais generosamente o próximo ao jeito de Jesus. Em síntese, para
melhor celebrarmos a festa das festas, a Páscoa de Cristo, e nos reencontrarmos
com o Senhor, fonte da nossa vida cristã.
Ir à fonte da nossa renovação: contemplar os braços abertos
de Cristo crucificado
O Papa Francisco, na sua mensagem, propõe-nos ir à fonte permanente da
renovação da nossa fé e da vida com Cristo. Para isso indica-nos a meta, que é
simultaneamente caminho a percorrer, com a exortação de S. Paulo “Em nome de
Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5, 20). É um apelo a
cada um a fazer, na sua história pessoal, uma experiência do amor imenso e
misericordioso de Deus manifestado na cruz e na ressurreição de Jesus.
Por isso o Papa convida-nos a fixar o olhar do coração na contemplação do
Crucificado: “Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar
sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê
firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu
sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por ele.
Assim, poderás renascer sempre de novo» (CV n. 123). É este amor eterno, santo
e misericordioso que nos precede, nos habita, nos acompanha, nos sustenta e nos
renova.
Conversão pela escuta da Palavra e pelo diálogo da oração
Este amor de Cristo por nós pede ser acolhido e cultivado num diálogo “de
coração a coração, de amigo a amigo” que é a oração. Por isso, o tempo da
quaresma é caraterizado pela oração mais intensa capaz de romper a dureza do
nosso coração e criar maior abertura e disponibilidade à conversão e à sua
santa vontade. De igual modo, a leitura orante da Palavra de Deus em que a
escutamos, acolhemos como palavra de vida e salvação e respondemos cumprindo-a
na nossa vida quotidiana.
Para a prática da oração, além de outras formas ao gosto de cada um e das
famílias, propomos e recomendamos novamente a todo o povo de Deus o retiro popular, segundo o método da
leitura orante da Palavra de Deus, com o opúsculo “Chamados e enviados pelo Senhor”.
Além disso, recomendo a iniciativa
“24 horas para o Senhor”, a concretizar nos dias 20 e 21 de março,
sexta-feira e sábado, ao cuidado das paróquias, vigararias e outras
comunidades. Aproveitemos esta oportunidade para organizar momentos de oração e
adoração eucarística e para celebrar o
sacramento da Reconciliação.
Testemunho de respeito pela vida e de solidariedade com os
necessitados
A vivência da quaresma no horizonte da celebração da Páscoa de Cristo não
nos separa do testemunho no mundo. Há duas afirmações muito fortes e de
premente atualidade na mensagem do Papa nesta perspetiva. A primeira
refere-se ao amor, respeito e proteção da vida da pessoa humana e da natureza:
“Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas
chagas de Cristo crucificado presentes nas inúmeras vítimas inocentes das
guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso,
das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua
distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas
formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria”.
A segunda afirmação refere-se à solidariedade e partilha com
os irmãos mais necessitados; “Também hoje é importante chamar os homens e mulheres
de boa vontade à partilha dos seus bens com os mais necessitados como forma de
participação na edificação dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna
o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no
seu egoísmo”.
Um sinal neste
sentido é a chamada renúncia quaresmal. A coleta desta renúncia na nossa
diocese será canalizada para a Diocese de Tete, em Moçambique, cujo bispo, D.
Diamantino Antunes, é missionário da Consolata e natural de Albergaria dos
Doze. A diocese tem uma superfície de 100.724km2, maior que Portugal, com uma
população de 3.764.169 habitantes, dos quais só 23% são católicos. É uma diocese pobre,
carente de recursos humanos e materiais para a obra de evangelização. Demos, pois, um testemunho forte de
generosidade na partilha!
Protagonismo dos Jovens
Todos sabemos que a mais bela juventude do mundo é a do coração e do
espírito. Para essa não conta a idade. Porém, neste ano pastoral dedicado aos
jovens será bom reforçar os laços com eles, reconhecendo e solicitando o seu
protagonismo na caminhada quaresmal. Podemos pedir-lhes que nos proponham viver
um aspeto da quaresma. Se eles animam um tempo de oração, estejamos presentes;
se organizam uma ação de partilha, apoiemo-los.
Esta atenção aos jovens exprime a atenção duma Igreja fiel a Cristo que é
chamada a ser “casa” em que crianças, jovens e adultos comungam na mesma vida e
no mesmo amor de Cristo ressuscitado.
Ao encontro de
Cristo com Maria e Jacinta Marto
A Quaresma conduz-nos ao encontro com Cristo Ressuscitado. Nesta
perspetiva se insere a peregrinação diocesana a Fátima, no quinto domingo da
quaresma, dia 29 de março. Convido todos a participarem e, de modo particular,
os jovens. Em consonância com o programa pastoral, peregrinaremos sob o lema “Ao encontro de Cristo com Maria e Jacinta
Marto”. Este ano incluímos a memória desta pastorinha de Fátima, porque
comemoramos o centenário da sua morte.
Será um momento particular de graça para contemplar Cristo com Maria e com o exemplo do pequena Jacinta, que
Nossa Senhora conduziu ao amor para com Jesus presente na Eucaristia e à
compaixão e à solidariedade com os sofredores e com os pecadores mais necessitados
da misericórdia de Deus. Ela também nos ajuda hoje no caminho da conversão para
que as nossas comunidades cresçam numa fé mais viva e num espírito mais
missionário, recebendo e irradiando a alegria do encontro com Cristo na Páscoa
da ressurreição e a consolação da sua misericórdia aos que sofrem!
A todos os diocesanos desejo uma santa e alegre Quaresma a caminho da
Páscoa!
Leiria,
21 de fevereiro de 2020.
† Cardeal António
Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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