Não se é discípulo como quem segue um clube, partido,
fação
Qual é a sua equipa preferida, Benfica,
Sporting ou Porto? Um partido político de direita ou de esquerda? É a favor ou
contra as touradas? Quer se trate de desporto, política ou qualquer outro
domínio, muitas vezes somos arrebatados pela paixão e defendemos vigorosamente
esta ou aquela causa. O âmbito religioso não está excluído. Os confrontos
belicosos entre apoiantes de diferentes compreensões do que é necessário para
estar do lado bom da verdade estão à vista de todos.
A passagem do Evangelho deste domingo (Marcos 9, 38-43. 45. 47-48) apresenta-nos um caso de fação. Os discípulos
estão escandalizados: um homem utiliza o nome de Cristo para curar, mas sem
fazer parte do seu grupo. Aos seus olhos é inaceitável. Quando informam Jesus
do facto, esperariam provavelmente uma anuência, talvez até uma felicitação da
sua parte. O que acontece é precisamente o contrário.
Jesus opõe-se à lógica de João, obrigando
o discípulo a ver mais longe do que o seu interesse de reduto. Não terá ele
visto que o homem incriminado opera realmente curas? Não terá ele visto que,
graças a esse exorcista, há pessoas que reencontram a sua dignidade humana e a
sua liberdade espiritual? Porque é que ele trata aquele desconhecido com tanta
violência?
Para
melhor compreender, é preciso recordar outro episódio narrado pelo evangelista.
Um dia, os discípulos tentaram expulsar demónios. Foi o fracasso. E agora um
vexame, porque aquele desconhecido teve sucesso onde eles falharam. Ficaram
encurralados num pensamento concorrencial. Comparam-se àquele estranho.
Julgam-no, desvalorizam-no e rejeitam-no.
«Ele não te segue connosco», é o argumento
dos discípulos. Mas é um argumento que os trai. O que lhes importa não é o que
é conseguido, mas a ligação que aquele homem mantém com eles, discípulos. Eles
perdem de vista que ninguém pode realizar uma obra de libertação daquela
grandeza sem que isso não lhe seja dado do Alto.
Se, portanto, um homem expulsa as forças
maléficas em nome de Jesus, é porque compreendeu que nele Deus revela-se
Salvador no meio do seu povo. Expulsar em nome de Cristo as forças alienantes
não é um truque mágico para fazer adeptos pessoais e de seguida dominá-los ou
explorá-los. É manifestar que em Jesus o Reino de Deus chegou até nós.
Os discípulos de Jesus são apresentados
envolvidos nas mesmas tentações que os adversários de Cristo: querem ser
guiados pelos conhecimentos e não pela fé, essa atitude humilde que não condena
os caminhos que os outros enveredam. Para os fariseus, o ciúme e o desejo de
domínio dissimulam-se numa compreensão rígida da Lei; para os discípulos,
manifestam-se pela pertença ao seu grupo.
Mas Jesus não pode aceitar esta exclusão
praticada pelos seus. A advertência vale também para nós. Cristo interpela a
Igreja: não veem que é possível ser-se filho ou filha da Aliança sem fazer tudo
como vós? A força do Pai que recria é anunciada por aqueles que, em meu nome,
dão aos humanos a sua liberdade para servir o Deus que também os chama.
Hoje, só Deus é verdadeiramente
“católico”. Felizmente, o seu Espírito trabalha-nos. Em Cristo.
Agnes von Kirchbach