Os obstáculos ao seguimento de
Jesus
Não basta cumprir a lei. Para seguir o
Mestre é necessário que o discípulo seja livre. Porque há bens que escravizam,
como há ideias que amarram ou recordações que bloqueiam. Jesus exige que o
discípulo esteja disponível.
Por isso, «vai vender o que tens, dá o
dinheiro aos pobres…». A reação é de desalento. O homem não é capaz de ir tão
longe. O rico não está habituado a ceder. Deseja a vida eterna, mas é incapaz
de remover o obstáculo que o impede de alcançar. E a recorrente tentação de
querer conciliar a acumulação obsessiva de bens com o seguimento é denunciada
pelo Mestre: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de
Deus!».
Tantas vezes nos colocamos diante de Jesus
e manifestamos-lhe o desejo de alcançar um Bem Maior, aqui e agora, mas nem
sempre estamos disponíveis para acolher as exigências que Ele nos faz. Por
vezes, enganamo-nos a nós próprios, convencendo-nos de que fizemos tudo o que
esteve ao nosso alcance quando, na verdade, contornamos subtilmente as palavras
duras, amolecemos o divino desafio adaptando-o às nossas ambições, tal como
aconteceu com a princesa do conto do Tchékhov.
De visita ao mosteiro, ela desejava fazer
a experiência da eternidade. Mas nesse lugar sagrado, onde anseia «instalar-se
para sempre, onde a vida parece ser serena e despreocupada», a paz é perturbada
pelo diálogo inesperado com um antigo funcionário. O velho médico, por sugestão
da nobre senhora, enumera os erros que estão na origem de uma vida infernal:
ela despreza os outros, explora os trabalhadores e até promove obras de
caridade por vaidade e para se promover socialmente. Fá-lo com a naturalidade
de quem julga que esse modo de vida é um direito garantido pelo seu estatuto.
Enfim, deseja estar em paz com Deus, mas tem repugnância das pessoas. Subjacente
a esta postura rígida, própria de quem não cede nada, está uma perspetiva
distorcida da experiência religiosa, entendida, por um lado, como mero
cumprimento de rituais e, por outro, como vivência encapsulada de uma paz sem a
exigência de olhar e cuidar do outro, o fragilizado, o pobre, o doente, o
marginalizado.
Se este tempo tem uma marca, é a da
tentação constante de reduzir a experiência de fé à repetição de rituais e de
rotinas cunhadas como “sagradas” por um lado e, por outro, pela multiplicação de
propostas de cariz espiritual que pretendem garantir uma experiência de
eternidade, rápida e satisfatória, a baixo preço, como se a eternidade fosse um
produto comercializável, suscetível de ser consumido sem a obrigação de sair de
si mesmo para amar e servir o outro.
Estas propostas são enganosas. São falsas.
São contrárias ao espírito do Evangelho na medida em que promovem o alheamento
da realidade distanciando o homem dos dramas deste mundo. São piedosas fugas
que não nos identificam com o Mestre que se fez pobre e nos desafia a segui-lo
incondicionalmente.
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