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PÁSCOA 2023 - cartaz e pensamento

 

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O BURRICO DE MARIA (IV Domingo do Advento)... e se ele falasse?

Pedi emprestadado ao meu bom amigo Padre Vitor Gonçalves esta bela descrição do evangelho do IV domingo do Advento. Não sabes qual é o texto? Procura e lê (mas lê também nas entrelinhas) :Lc 1,39-47

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DOMINGO IV ADVENTO Ano C

Eu sou o burrinho que levou Maria (e o Deus Menino no seu seio)
até à casa da sua prima Isabel, que de tão avançada idade esperava também um filho.
É verdade que nem eu, nem José, somos referidos por Lucas no seu evangelho,

mas todos os artistas nos convocaram para tão bendita viagem:

ia lá agora Deus deixar ir sozinha a mãe do seu Divino Filho,

por aqueles montes e vales, e tão apressadamente como ela desejava ir?

Foi José que me veio buscar ainda o sol não tinha nascido,

e me confidenciou o desejo de Maria em fazer aquela viagem.

Fiquei todo contente, e ainda mais quando ele me disse que ela esperava um bebé,

que havia de ser a alegria para todo o mundo.

Não imaginam a leveza de Maria sobre o meu dorso;

nem sei bem se era eu que a levava ou se me levava ela (e o seu Menino)

por aqueles caminhos que me pareceram tão suaves.

De ternura e cuidado eram as poucas palavras de José,

e Maria encantada, e cantando por vezes, antecipava a alegria do encontro,

como se Deus o desejasse também desde o princípio dos tempos.

Não serei o melhor cronista desta viagem,

mas não consigo calar a emoção daquele encontro das duas mães:

uma, de muitos anos, cujo seio estéril tinha florescido,

outra, jovem, em cujo seio virginal Deus tinha encarnado;

a primeira, como o resto fiel do povo da Aliança,

a segunda, como a primeira da nova humanidade;

e no seio de Isabel o precursor do Messias a saltar de alegria

ao reconhecer a vinda do seu Senhor no seio de Maria.

Zacarias e José a tudo assistiam com discrição e espanto,

e eu pus-me a zurrar de contentamento.

Tudo pareceu rápido e eterno.

As palavras de Isabel a saudarem Maria, com o sabor fresco das Escrituras,

naquele elogio que se ouviria ao longo dos tempos;

e as palavras de Maria a cantar as maravilhas de Deus,

com o sabor antecipado dos milagres de seu Filho,

os que Ele faria e os que iria ensinar-nos a fazer,

e tudo a entrar também pelas minhas orelhas de burro

que me dava ganas de dançar.

E o mais, que vos conte o Espírito Santo!

segunda-feira, 29 de junho de 2020

SS PEDRO & PAULO (29 de Junho)

Solenidade de São PEDRO e São PAULO, Apóstolos

Para quem tem Fé
é tão fácil as horas transformarem-se em dias e os dias em meses e os meses em anos!
Para aqueles que escutam a voz do Pai
é tão bom abandonar a vida nas Suas mãos, nos Seus insondáveis desígnios!
Para cada um de nós, que somos Baptizados,
que vivemos por Cristo, com Cristo e em Cristo,
é tão maravilhoso proclamar que Amamos o Messias!

Hoje, celebramos dois Apóstolos de Jesus.

Saulo… Aquele que na queda viu a intensidade da Luz,
do “Verbo que se fez carne” e nos ofereceu a salvação!
O perseguidor que passou a perseguido.
Viveu pela espada!
S. Paulo, o homem da Palavra, o Evangelista inato:
«Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.»

Simão… Aquele que deixou as redes, o barco e a família para pescar homens.
O cobarde que abre o peito para que o Espírito Santo habite e fale através dele.
É a pedra edificadora! É o detentor das Chaves!
Pedro, o Chefe da Igreja, o primeiro discípulo a fazer uma Profissão Messiânica:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».

Nos tempos em que vivemos,
Pedro e Paulo são modelos que devemos seguir para toda a VIDA!
Homens que se revelaram em Fé profunda.
Homens que após o encontro com o Mestre, mudaram de vida.
Homens fortes! Homens valentes! Homens de palavras que se transformam em atitudes.

Caríssimos,
que a Fé habite no coração de cada um de nós.
Não podemos fazer dos nossos dias uma rotina fútil e sem Deus.
Que a lembrança da Ressurreição do Messias,
de que Pedro é testemunha, seja o nosso maior alento!
Que as cartas de Paulo sejam o nosso ponto final,
para qualquer dúvida ou anseio que atormentem a estrada que percorremos!
e… que o Amor seja o primeiro e o último motivo pelo qual vivemos!

Hoje, é urgente ser Paulo e ser Pedro…
A vida é Dom de Deus.
Que a queda do cavalo nos resgate de todo o mal…
Que o sabor do mar nos faça bravos pescadores de homens…

Liliana Dinis


sábado, 6 de junho de 2020

SS TRINDADE - Uma reflexão


Trindade: Deus é comunhão, vínculo, abraço
Os nomes de Deus sobre o monte (João 3,16-18) são um mais belo do que o outro: o misericordioso e piedoso, o lento para a ira, o rico de graça e de fidelidade (Êxodo 34,6). Moisés subiu com esforço, duas tábuas na mão, e Deus desconcerta-o e a todos os moralistas, escrevendo naquela rígida pedra palavras de ternura e de bondade.
Que chegam até Nicodemos, naquela noite de renascimento. Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o seu Filho. Estamos no versículo central do Evangelho de João, num espanto que renasce sempre perante palavras boas como o mel, tonificantes como uma caminhada junto ao mar, entre salpicos de mar e ar bom respirado a plenos pulmões: Deus amou tanto o mundo… e a noite de Nicodemos, e as nossas, iluminam-se.
Jesus está a dizer ao fariseu medroso: o nome de Deus não é amor, é “muito amor”, Ele é “o muito-amante”. Deus, pela eternidade, considera o mundo, cada carne, mais importante que Ele próprio. Para me adquirir, perdeu-se a si mesmo. Loucura da cruz. Insanidade de Sexta-feira Santa. Mas por nós renasce: cada ser nasce e renasce do coração de quem o ama.
Experimentemos saborear a beleza destes verbos no passado: Deus amou, o Filho foi dado. Dizem não uma esperança (Deus amar-te-á se tu…), mas um facto seguro e adquirido: Deus já está aqui, impregnou de si o mundo, e o mundo dele está embebido
Deixemos que os pensamentos absorvam esta verdade belíssima: Deus já veio, está no mundo, aqui, agora, com muito amor. E repitamo-nos estas palavras a cada despertar, a cada dificuldade, de cada vez que perdemos a confiança e se faz noite.
O Filho não foi enviado para julgar. «Eu não julgo!» (João 8,15). Que palavra explosiva, a repetir setenta vezes sete à nossa fé amedrontada! Eu não julgo, nem para sentenças de condenação nem para vereditos de absolvição.
Posso pesar os montes com a balança e o mar com a palma das mãos (Isaías 40,12), mas o ser humano não o peso nem o meço. Salvar quer dizer alimentar de plenitude e, depois, conservar.
Deus conserva: este mundo e eu, cada pensamento bom, cada generosa fadiga, cada dolorosa paciência; nem um cabelo da vossa cabeça se perderá (Lucas 21,38), nem sequer um fio de erva, nem sequer um fio de beleza desaparecerá no nada.
O mundo é salvo porque amado. Os cristãos não são aqueles que amam Deus, são aqueles que acreditam que Deus os ama, que pronunciou o seu «sim» ao mundo, antes que o mundo diga «sim» a Ele.
Festa da Santíssima Trindade: anúncio que Deus não é em si mesmo solidão, mas comunhão, vínculo, abraço. Que nos alcançou, e liberta, e faz erguer em voo uma pulsão de amor.

Ermes Ronchi


sábado, 21 de março de 2020

IV DOMINGO QUARESMA A - Reflexão a partir da Palavra

Somos como cegos à procura da luz
O protagonista da narrativa do quarto domingo da Quaresma (João 9,1-41) é o último da cidade, que nunca viu o sol nem o rosto da sua mãe. Tão pobre, que nunca teve nada. E Jesus detém-se por ele, sem que lhe tenha pedido nada. Faz um pouco de lama com pó e saliva, como argila de uma mínima criação nova, e estende-a sobre aquelas pálpebras que cobrem a escuridão.
Nesta narrativa de pó, saliva, luz, dedo, Jesus é Deus que se contamina com o ser humano, e é também o ser humano que se contagia de Céu; temos um olhar mestiço, com uma parte terrena e uma parte celeste. Cada criança que nasce «vem à luz», cada pessoa é uma mistura de Terra e de Céu, de pó e luz divina. «Todos nós nascemos a metade, e toda a ida serve-nos para nascer do todo» (M. Zambrano).
A nossa vida é um amanhecer contínuo. Deus amanhece em nós. Jesus é o guardião das nossas auroras, o guardião da plenitude de vida, e segui-lo é renascer; ter fé é adquirir «uma visão nova das coisas» (G. Vannucci). O cego é dado à luz, nasce de novo com os seus olhos novos, narrados por uma pergunta repetida sete vezes: como te foram abertos os olhos? Todos querem saber “como” apoderar-se do segredo de olhos invadidos pela luz, todos com olhos ainda por nascer.
A pergunta premente (como se abrem os olhos?) indica um desejo de mais luz que a todos habita; desejo vital, mas que não amadurece, um rebento logo sufocado pela poeira estéril da ideologia da instituição. O homem nascido cego passa de miraculado a imputado. Aos fariseus não interessa a pessoa, mas o caso do manual; não interessa a vida que voltou a esplender naqueles olhos, mas a “sã” doutrina. E levantam um processo por heresia, porque foi curado ao sábado, e ao sábado não se pode, é pecado…
Mas que religião é esta que não olha para o bem do ser humano, mas só para si mesma e para as suas regras? Para defender a doutrina negam a evidência, para defender a lei negam a vida. Sabem tudo das regras e morais e são analfabetos do ser humano. Em vez de usufruir da luz, preferiam que voltasse cego, e assim teriam eles razão, e não Jesus.
Dizem: Deus quer que ao sábado os cegos continuem cegos! Nada de milagres ao sábado! A glória de Deus é a observância dos preceitos. Metem Deus contra o ser humano, e é o pior que pode acontecer à nossa fé. Ao contrário, não, a glória de Deus é um mendigo que se ergue, um homem que regressa com a vida plena, «um homem finalmente promovido a homem» (P. Mazzolari). E o seu olhar luminoso, que passa e ilumina, alegra Deus.
Ermes Ronchi


sábado, 22 de fevereiro de 2020

CINZAS - quarta-feira


CINZAS 



Se fores à missa na Quarta-Feira de Cinzas (26 de fevereiro), vais participar numa cerimónia muito interessante. É a imposição das cinzas em todas as pessoas. Trata-se de um sinal muito interessante, que só acontece uma vez por ano.
O sacerdote vai colocar-te um pouco de cinza sobre a cabeça e dizer: «Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar.» Ou então: «Arrepende-te e acredita no Evangelho.»
Sabes o que significam as cinzas? Em muitos passos bíblicos, o arrependimento é expresso com este gesto de lançar cinzas sobre a cabeça, ou então dormir sobre ela (Jn 3,6 r Jt 4,11). A cinza é também um sinal da fragilidade e da pequenez do homem.
Assim, a liturgia quer que te recordes de como podemos ser fracos e de como é necessário estarmos sempre atentos e sempre em processo de reconstrução interior.

sábado, 11 de janeiro de 2020

BAPTISMO: UM 'MERGULHO' NO AMOR DE DEUS


BAPTISMO, O MERGULHO NO AMOR DE DEUS
A cena grandiosa do Baptismo de Jesus (Mateus 3,13-17), com o céu rasgado, com o voo de asas abertas do Espírito sobre as águas do Jordão, com a declaração de amor de Deus, aconteceu também no meu Baptismo, e acontece ainda a cada reinício.
A Voz, a única que soa dentro da alma, repete a cada um: tu és meu filho, o amado, em ti pus o meu comprazimento. Palavras que ardem e queimam: filho meu, amor meu, alegria minha.
Filho é a primeira palavra. Filho é um termo poderoso sobre a Terra, poderoso para o coração do ser humano. E para a fé. Deus gera filhos segundo a sua espécie, e eu e tu, nós todos temos o cromossoma do pai nas nossas células, o ADN divino em nós.
Amado é a segunda palavra. Antes que tu ajas, antes que tu digas «sim», que tu o saibas ou não, a cada dia, a cada despertar, o teu nome para Deus é «amado». De um amor que te antecede, que te antecipa, que te envolve prescindindo daquilo que hoje serás e farás.
Amado, sem se e sem mas. A salvação deriva do facto de Deus me amar, não do facto de eu o amar. E que eu seja amado depende de Deus, não depende de mim! É graça! E é este amor que entra, transborda, envolve e transforma: somos santos porque somos amados.
A terceira palavra: meu comprazimento. Termo desusado, inusual, todavia belíssimo, que no seu núcleo contém a ideia de prazer. A Voz grita do alto do Céu, grita sobre o mundo e dentro do coração, a alegria de Deus: é belo contigo, filho meu; tu dás-me prazer; estar contigo enche-me de alegria.
O poder do Batismo é dito com o símbolo vasto das águas que limpam, dessedentam, refrescam, curam, fazem germinar as sementes; com o Espírito que, juntamente com a água, é a primeira de todas as presenças na Bíblia, em ação já desde o segundo versículo do Génesis: «O Espírito de Deus pairava sobre as águas».
Uma dança do Espírito sobre as águas é o primeiro movimento da história. Desde então o Espírito e a água estão ligados a cada génese, a cada nascimento, a cada Batismo, a cada vida que brota.
Pensamos no rito do Batismo como em algumas gotas de água derramadas sobre a cabeça da criança. A realidade é grandiosa: na sua raiz, batizar significa mergulhar: «Estamos imergidos num oceano de amor, e não nos damos conta» (G. Vannucci).
Eu sou mergulhado em Deus, e Deus é mergulhado em mim; eu na sua vida, Ele na minha vida; «aperta-me a ti, aperta-te em mim» (G. Testori). Sou dentro de Deus, como dentro do ar que respiro, dentro da luz que me beija os olhos; mergulhado numa fonte que nunca se esgotará, submergido num ventre vivo que alimenta, faz crescer e protege: batizado.

 Ermes Ronchi