QUARESMA, ‘lima’
modelar
A
começar este tempo estão gestos que se concretizam na Páscoa. Como costumamos
dizer: é bom começar bem para terminar bem.
A
‘lima’ de que falamos (em título) é uma ressonância simbólica do instrumento
precioso usado em várias áreas, mas nomeadamente, pelos marceneiros
(carpinteiros), para modelar e aperfeiçoar a obra em realização. Todo ser
humano, e muito mais a propósito um cristão, precisa desta lima. E a lima faz
doer; de mansinho, mas faz doer! Mas após a limpeza das ‘farpas’ tudo é mais
belo!
Como
cristãos sabemos, desde já, que estes dias são tempo de confiança e de
esperança, pois é na Páscoa da Ressurreição que está a nossa méta. Também temos
consciência que é um caminho exigente, que apela à mudança, à conversão, à humildade.
A
Quaresma permite-nos um confronto forte entre a vontade de ser bons e felizes e
a tentação do mal. É uma luta forte, que não podemos adiar, à qual não podemos
dar tréguas. Alhear-se ou deixar andar é a mesma coisa que aceitar o domínio
dos nossos vícios e pecados. Há por aí tantos que afirmam ‘despudoradamente’
que não têm qualquer mal, e outros que reafirmam a inocuidade do mal que se
faz, naquela expressão já tão em voga (infelizmente) do ‘tanto faz’ e o
‘problema é meu’! O Santo Padre, na sua mensagem para este tempo, adverte-nos
de maneira forte: quando nos tornamos
indiferentes, tornamo-nos desumanos e deixamos cada um à sua sorte.
Nós
podemos querer ser indiferentes perante os outros, especialmente aqueles que
Deus coloca em cada dia ao nosso lado, os nossos familiares. Não deixemos que a
indiferença tome conta de nós, pois é ela que conduz ao ‘extremismo’ do
afastamento de Deus.
Na
Quaresma não vale a pena ‘dar nas vistas’, nem querer parecer ou ‘aparecer’,
pois o carnaval já passou e o que realmente conta é a verdade genuína; na
quaresma não vale a pena ‘chatear’ outros ou tentar ‘desalinhar’ a vida de
outros porque não se está bem consigo mesmos; na quaresma não tem sentido
‘comprimir’ a boca e o estômago, porque o necessário é abster-se de ‘intenções’
vaidosas e maldosas em relação aos outros; na quaresma não vale ter a
certezinha absoluta de que ‘eu’ é que estou certo(a) e recto(a) e os outros é
que estão mal (Jesus não gostava nada deste tipo de atitudes). Mas na quaresma
vale a pena um ‘freio’ que seja eu a forjar para me inibir no mal; na quaresma
vale a pena criar uma íntima vontade de alterar procedimentos errados (sem dar
nas vistas); na quaresma tem sentido realizar gestos de amor, a partir da
humildade e da simplicidade; na quaresma vale ter a certeza de que Deus só olha
a quem se converte (em vez de cair na tentação de apenas querer converter os
outros)…
Entre
os gestos sacramentais, enraizados no Senhor, sobressai (ainda mais neste
tempo) o do perdão, pois só ele revela o querer de filhos que desejam o abraço
reconfortante do Pai bondoso.
Quaresma,
tempo para ‘limar’, porque afinal somos já filhos bem amados e a grande obra do
Criador! Mas ainda falta este pormenor: que a obra criada se deixe limar!
Espero
e desejo para todos e cada um uma quaresma frutuosa e purificadora!
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