Nota do publicador:
«Tenho
muito medo de voltar aos caminhos do mal»: Uma reclusa corresponde-se com o
“seu” bispo
«O tempo passado na prisão não é vazio e inútil, se o coração
se abre ao Senhor para começar com Ele um diálogo constante, não tanto de
palavras, mas de sentimentos interiores: a certeza do seu amor que nunca falha,
afugenta todo o temor e infunde força e coragem.» Fala diretamente aos reclusos
o arcebispo de Turim, D. Cesare Nosiglia, e escolhe uma mulher em particular
para falar da situação da prisão.
A sua reflexão chega depois de a mulher ter dirigido uma
carta, a semana passada, ao semanário da arquidiocese italiana. «Gostaria de
agradecer à redação e a todos aqueles que se recordam de nós, detidos, como
pessoas, e pensam em nós com humanidade», escreveu.
«Li a carta que D. Cesare Nosiglia, através do vosso jornal,
quis enviar-nos, e peço-vos que lhe levem o meu agradecimento pelas palavras de
esperança que nos deu. Faltou-nos a missa de Natal por ele presidida, que me
crismou, aqui na prisão em 2017, porque é um homem próximo das pessoas comuns:
isto, para mim, é importantíssimo, porque nos faz sentir menos sós, dá força às
pessoas que estão a perder o trabalho, aos últimos deixados ao frio, aos idosos
sós dá aquele afeto de quem uma sociedade demasiado egoísta muitas vezes
esquece a existência».
A missiva estava contida no apelo “Abona um detido”, a que
responderam 60 leitores do semanário, permitindo ao jornal entrar a cada semana
em outras tantas secções da prisão.
«Tudo isto me enche os dias e o coração, porque me sinto uma
pessoa melhor servindo o próximo. Recordo os ensinamentos dos Salesianos, quando
ia ao seu oratório: dirigir a minha oração a Deus ajuda-me, reforça-me e não me
faz sentir só»
«Aqui na prisão, 2020 foi um ano devastador», escreveu a
mulher. «Num lugar já fechado e apertado para o corpo e para a alma, o tempo
tornou-se ainda mais longo e pesado. Só graças aos capelães conseguimos manter
viva a esperança e decidimos evitar revoltas estéreis e lamúrias, e
respeitarmo-nos como pessoas.»
No número de Natal do semanário, o arcebispo tinha redigido
uma mensagem às pessoas detidas, e depois decidiu continuar o diálogo,
respondendo à mulher.
«Na minha carta, convidei-a a pensar no seu futuro com
serenidade, porque o Espírito Santo que recebeu no sacramento do Crisma que lhe
administrei a sustentará no seu caminho, e aconselhá-la-á as escolhas acertadas
a tomar para vencer o mal com o bem, e nunca perder a confiança em si mesma,
porque o seu amor afugenta todo o temor.»
Palavras de esperança que procuram iluminar a consciência que
a mulher detida tem das suas potencialidades e fraquezas: «Tenho muito medo de
voltar aos “caminhos do mal”, e estou a dar o meu melhor para voltar a ser uma
mulher que gosta de si mesma e não se desperdice».
«Infelizmente, a prisão é um ambiente duro, e pesa-me muito
estar longe dos meus afetos, mesmo se a solidariedade entre alguns de nós não
falte e nos une. Mas o futuro está mais cheio de incertezas do que de bons
auspícios, especialmente para quem, como eu, teme a exclusão de uma possível
reinserção, uma vez cumprida a minha pena», declara.
Do “lado de fora” vive-se uma crise assustadora, «mas não me
faço “matar” pela vitimização, antes, combato-a: com o trabalho de limpeza, com
o estudo no polo universitário para os detidos, ainda que com dificuldade,
porque por agora está reservado aos reclusos masculinos, e com o voluntariado
na seção especial onde estão as mães com crianças com menos de seis anos».
«Tudo isto me enche os dias e o coração, porque me sinto uma
pessoa melhor servindo o próximo. Recordo os ensinamentos dos Salesianos,
quando ia ao seu oratório: dirigir a minha oração a Deus ajuda-me, reforça-me e
não me faz sentir só.»
Marina Lomunno
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