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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

XXXIII DOMINGO COMUM - textos de reflexão dominical


Matar a morte
É possível a fé «matar a morte»?
Se a vida é uma bênção, a morte surge no horizonte, ainda que distante, 
como uma maldição impossível de contornar. 
Pode surpreender-nos em tempo de festa 
e a sua densa sombra sobre aqueles que amamos é fonte de angústia. 
Dialogamos com ela durante noites a fio 
enquanto mantemos um braço de ferro até ao limite, 
até ao dia em que a abraçamos ou somos mansamente abraçados por ela. 
«No fim dos tempos», 
nesse tempo que desejamos longínquo,
sonhamos que a «morte morra», 
porque até aquele que a antecipa procura desesperadamente um espaço de liberdade e de realização. Desejamos que a morte seja a pedra 
na qual assentamos o pé para atravessar o grande lago, 
a fronteira que separa os dois mundos, 
realidade transitória mas necessária 
para aceder à plenitude de felicidade que naturalmente ansiamos.
É possível que a «morte morra?» 
A perspetiva cristã enfrenta este mistério 
de um modo que alguns consideram uma estratégia de negação da realidade, 
uma espécie de fuga para a frente. 
A finitude não é uma desgraça, antes pelo contrário, 
é uma experiência de libertação. 
O morrer, associado por vezes à dor terrível, é o pórtico para a comunhão plena com Deus.
Esta nova visão da morte está já presente nos primeiros testemunhos que chegaram até nós, 
como por exemplo, a versão de S. Marcos do fim dos tempos que escutamos este domingo:
«Nos últimos dias, depois de uma grande aflição… 
Nessa altura, verão o Filho do Homem vir…. 
Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos…».
Terá sido num ambiente familiar, longe do olhar persecutório das autoridades, 
que a mensagem apocalíptica de Jesus foi repetidamente proclamada. 
Ameaçado e perseguido por causa da fé, 
o pequeno grupo não arrepiou caminho. 
Hoje é-nos difícil imaginar o impacto disruptivo deste pequeno grupo na cultura dominante.
Eram, no mínimo, bastante estranhos. 
Como destaca o ensaísta D. Hart, faziam parte da comunidade as pessoas mais desprezíveis. 
Aos olhos dos pagãos, tinham sido justamente condenadas, 
torturadas e executadas pelos seus crimes mas, 
para espanto de muitos, rapidamente eram glorificadas como mártires da fé, 
cujas relíquias ocupavam o espaço devocional dos antigos deuses.
O comportamento anormal dos seguidores do Galileu, 
também Ele torturado e executado em espaço público, 
é apenas compreensível à luz da eminente ressurreição, 
caso contrário, não passaria de um grupo de lunáticos sem qualquer consistência social e histórica. Um novo dado altera substancialmente o modo de ver e estar no mundo:
a devoção ao Deus crucificado e ressuscitado.
É possível a fé «matar a morte»? 
A resposta dos cristãos é inequivocamente afirmativa.

P. Nélio Pita, CM 

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