ADVENTO
E MISERICÓRDIA
O tempo - o ano litúrgico - que se inicia
projecta-nos para o futuro, assim como o perdão nos lança numa vida nova. Como
diz 'Francisco', o Santo Padre, «o perdão é uma força que ressuscita», mas é
uma força a partir de dentro, aquela que, no mundo que habitamos, é ignorada,
anulada e riscada da vida. Mas, interrogo-me eu, não é verdade que tudo começa
no interior, até a própria vida? Aqui há anos, quando começaram a surgir a
primeiras ecografias (do feto no ventre materno), um dos meus mestres (de
nacionalidade holandesa), admiradíssimo, saiu-se com esta expressão (que nunca
esqueci): 'carramba pah, já temos a fotocópia antes do orriginal'! A
graciosidade da expressão revela que 'o futuro está aí', quando menos pensamos,
e é por isso fundamental estar atentos e preparados para que ele não nos surpreenda
‘desarmados’ e ‘ocupados em coisas inúteis’. Embora haja uma vontade estonteante em querer
antecipar, prever, certificar, o que é maior que nós, o que ´não nos pertence
dominar', não podemos ficar parados, amarrados ao passado, inertes e
desconsolados desistentes, como o povo de Deus, 'abotoado' às 'cebolas do
Egipto', 'preguiçoso' da novidade e das surpresas que estavam para acontecer!
Há quem não se importe de morrer no deserto por não lutar até ao fim pela
'água' que dá vida.
É aqui que, no meu entender, se cruzam,
por um lado a expectativa do futuro - a confiança, o desejo da alegria, a
tenacidade de não desistir, a vontade de percorrer o caminho - e por outro o
modo e a maneira de lá chegar. Advento e misericórdia.
Se quisermos ser mais assertivos,
poderemos afirmar que o Advento é o
prelúdio da visão da misericórdia de Deus, porque Jesus é esse rosto. Ou, talvez, de modo mais
simples, este tempo que agora começamos há-de levar-nos a contemplar o rosto
visível – em Jesus de Nazaré - da bondade
e da ternura infinita de Deus Pai. Esse tal Natal, que celebramos em cada ano,
só é possível quando a ‘misericórdia’, que é o outro nome da ‘bondade’ e do ‘perdão’,
fizerem parte do vocabulário habitual, das atitudes constantes de cada dia!
Conjugando a misericórdia com o Advento
poderemos certamente tornar o Ano jubilar que agora começa como um tempo de
graça, um tempo ‘novo’.
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