Uma partilha pascal (pessoal), a partir da realidade.
Hoje é o dia da
alegria, mas de uma alegria séria, forte mas consciente, profunda mas coerente,
porque não corresponde à realidade e à verdade que a alegria – na vida de cada
um – seja plena e total. Podíamos até afirmar que na Páscoa, nesta Páscoa, urge viver uma esperança da alegria.
Porque pode até parecer descabido falar de alegria, quando na verdade – a sério
– constatamos tantos sinais concretos de tristeza e maldade, tanta condenação
injusta – naqueles que são condenados ao desespero pela arrogância e orgulho de
outros, naqueles que hoje, neste dia, celebram um dia solitário (sem ninguém),
nos que sofrem pelos erros graves de outros, nos que por inveja e ‘peneira’
negam uma saudação, mas muito especialmente pela indiferença perante o mistério da cruz!
ÂCorremos o risco de nos deixar
fascinar pelo mundo, para quem a paixão e morte de Jesus não passam de «loucura
e escândalo», quando na verdade são «poder e sabedoria
de Deus»? Porventura não seremos cristãos mornos, ao passo que o o
amor de Jesus é um mistério de fogo?
Porventura damo-nos conta de que, antes de Deus vir até junto de nós, não
sabíamos quem pudesse ser Deus? Jesus, permitiu-nos
levantar o olhar para Ele e prometeu-nos o Reino dos céus! Como
não havemos então de amar Aquele que nos amou primeiro?
 Nestes dias
foi-nos recordado pelo Sto Padre que hoje há muitas “traições diárias” dos
crentes à mensagem de Jesus, denunciando o “silêncio cúmplice” dos que assistem
com indiferença ao massacre de cristãos “perseguidos, decapitados e
crucificados” por causa da sua fé.
Até nós, cada
um, podemos, neste nosso cantinho em que nos lamentamos, mas que é tão doce,
esquecer e pensar que não é verdade que, mesmo nestes dias, há homens e
mulheres que são presos, condenados ou até mesmo trucidados, só porque são
crentes ou comprometidos em prol da justiça e da paz. Não se envergonham da cruz de riz. São, para nós, admiráveis exemplos a imitar.
ÂÉ claro que hoje tem de
ressoar, fazer eco, bem dentro de nós e à nossa volta as palavras do Evangelho:
quando passou o Sábado…
Ninguém pode dar
a notícia da esperança e da alegria se ficar parado, á entrada do sepulcro, a
olhar sem ver nada, mas também nada fazer! E, pensando na nossa fé, corremos
tanto (mas tanto) o risco de ficar parados, à espera sem esperança… ou para
como olheiros ver o que farão os outros (e começar a linguajar…) ou para –
preguiçosamente – dizer para si mesmos: eu não sou o salvador, isto não é para
mim. Não pode ser: hoje é o dia do testemunho: de dizer, lá na nossa casa, sem
medo nem vergonha, Deus ama-te, ama-me, ama-nos… e com Ele venceremos sempre os
‘mistérios dolorosos’ da vida. Como a Maria do Evangelho: ouviu e depois foi
dizer, não se calou. Alguém tem dúvidas de que se Jesus habita na sua casa tudo
se torna diferente: temos mais alguém com quem conversar, alguém a quem pedir
conselho e ajuda, alguém a quem agradecer… às vezes estamos em família, na
nossa casa, e vivemos como ‘mudos’, cada um com os seus ‘deveres’, mas poucos
em comum!
O Sábado tem de
passar, o silêncio tem de transformar-se em feliz anúncio, em palavras belas
que é preciso dizer (e não só pensar). Não é banalidade dizer a um pai ou mãe:
gosto de ti, Jesus ama-te! Não é uma infantilidade. Não é banal dizer – mesmo
com um gesto – a um pai ou mãe velhinhos (ou avós): nunca te abandonarei, pois
podem ter a certeza de que eles nunca nos abandonam. Não é ridículo dizer a um
filho pequeno ou jovem: rezo por ti e também podemos rezar juntos, ou gosto de
ti como Jesus que nos amou mais que tudo! Não é uma estupidez ou uma coisa dos
velhos ou do antigamente fazer uma oração juntos, como esposos (ou com os
filhos), ao fim dum dia ou de manhã! Nada disto é inútil. E perguntemo-nos:
fazemo-lo? Custa assim tanto? Posso começar ou recomeçar? Podemos conversar
sobre isso em família? Esta será uma
Páscoa bela, grande e diferente, se houver algo que mude assim na nossa vida!
 Talvez cada pudesse rezar: Abre-te, coração meu. Sê amplo como o coração de
Deus. Abre-te para levares esperança. Abre-te para tomares ao teu cuidado.
Abre-te para ouvir. Abre-te para pores bálsamo nas feridas. Abre-te para dares
luz a quem está nas trevas. Guarda e consola hoje, amanhã e sempre.FELIZ E SANTA PÁSCOA! (PLuis Ferreira)