O nosso bispo diocesano, D. António Marto, acaba de nos brindar com um texto, uma 'Carta Pastoral', direccionada a todos os cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade da diocese que se interessem pela cultura cristã. Além de ser uma reflexão sobre a 'história' da diocese, que serve como 'memória' ou como uma 'fonte' para o futuro, poderá ser certamente um bom instrumento de 'trabalho' para cada cristão, para grupos, instituições e paróquias. Embora o texto seja de cariz espiritual poderá ser uma 'luz' para quem deseje aprofundar a sua cultura. Eis o link onde se pode encontrar on-line o texto integral:
http://leiria-fatima.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=11492%3Abispo-de-leiria-fatima-apresenta-carta-pastoral-para-2017-2018-a-alegria-de-ser-igreja-em-missao&catid=79&Itemid=671
(eis um resumo temático)
Diocese “tão antiga e tão nova” faz festa
As
palavras de Agostinho de Hipona, o santo escolhido como padroeiro para a
Diocese restaurada, há 100 anos, poderão ser adotadas para resumir o ideário do
próximo ano pastoral: esta Igreja diocesana, em ano jubilar do centenário da
sua restauração, quer descobrir a sua beleza histórica, mas também a alegria da
novidade permanente, própria de um corpo vivo. Deus é essa “beleza tão antiga e
tão nova” de que falava Santo Agostinho e também a Igreja por Ele fundada é
chamada a aproximar-se dessa imagem.
Assim,
entre outubro de 2017 e outubro de 2018, a Igreja de Leiria-Fátima estará em
“modo de festa”, tendo como epicentro a efeméride da sua restauração, a 17 de
janeiro de 1918. Mas é uma festa com conteúdos e objetivos bem definidos, como
aponta o Bispo diocesano, D. António Marto, na carta pastoral “A alegria de ser
Igreja em Missão”, com data do passado dia 28 de agosto, precisamente, dia da
memória deste Santo Padroeiro. Concretamente, os fiéis serão convidados a
“avivar a consciência do percurso histórico da Diocese nos últimos cem anos e
dar graças a Deus; fortalecer o sentido de pertença à comunidade diocesana; e
motivar a vida e a missão eclesial no testemunho e anúncio do Evangelho”.
Isto
sem perder de vista a alegria, característica essencial da festa, que D.
António coloca logo no título e na abertura da carta pastoral, que se propõe
“iluminar o percurso pastoral da nossa Igreja diocesana ao longo de 2017-2018 e
ajudar a vivê-lo com o entusiasmo irradiante da fé”.
Partindo da memória
Se
o motivo da festa é um centenário, é importante recordar o acontecimento que
lhe dá origem e a “longa peregrinação no tempo” desde então. Tal como o Povo de
Deus fazia constante memória das maravilhas de Deus para O aclamar como Senhor,
também nós “somos chamados a fazer memória de uma história de que somos
herdeiros, a revisitá-la, a relê-la na perspetiva das maravilhas que Deus
realizou no nosso povo e do louvor que elas suscitam em nós”, escreve o Bispo
diocesano no primeiro capítulo da carta pastoral.
Este
exercício servirá, em primeiro lugar, para frisar a “identidade, unidade e
continuidade” desta Igreja particular, pois “sabendo donde vimos, tomamos
consciência do que somos, dos laços que nos unem, dos valores que nos movem”.
Tal memória deverá encontrar a história concreta “de rostos, de pessoas com
nome próprio, de experiências, acontecimentos e momentos que concorreram para
dar forma a estes cem anos, para a identidade eclesial diocesana enraizada no
tempo e no nosso espaço geográfico e humano”.
Em
segundo lugar, deverá ser uma “memória do futuro”, isto é, dirigida para a
esperança e a renovação. D. António Marto alerta para as duas tentações de
“glorificar os êxitos do passado denegrindo o presente” ou de “pôr em relevo os
erros do passado para exaltar o presente”. Evitando cair nelas, há que,
“inspirando-se no passado, encontrar os meios para adquirir uma arte de viver
hoje a fé, na relação com Deus e com os outros, adquirir uma sabedoria para
viver – sobretudo em condições inéditas – os acontecimentos atuais com
esperança e coragem, como fizeram os nossos pais”. Na mesma linha, somos também
convidados a uma atitude de “memória agradecida”, que saiba “dar graças a Deus
e manifestar a gratidão a todos os que nos precederam no testemunho da fé e do
amor”.
Nesta
carta pastoral não se inclui a história propriamente dita, anunciando-se que
serão publicadas obras e realizado um congresso sobre o assunto, mas
sublinham-se alguns tópicos fundamentais, como a própria restauração da Diocese
e o “acontecimento-mensagem de Fátima que conferiu à diocese uma caraterística
intensamente mariana e a dotou do carisma específico de cuidar da mensagem e da
sua atualidade para a renovação da Igreja e a paz no mundo”. Recorda-se, ainda,
o contributo de muitos sacerdotes, das comunidades religiosas e dos movimentos
apostólicos ao longo das décadas e de momentos especiais como a implementação
das diretrizes do Concílio Vaticano II, o Sínodo Diocesano e a vivência ainda
em curso do Centenário das Aparições de Fátima, onde se destaca a canonização
dos Pastorinhos Francisco e Jacinta.
Será
esta a “herança que nos interpela e impele para diante”. O Bispo diocesano
termina este capítulo com algumas perguntas, como se “seremos capazes de
reconhecer o que recebemos e dar graças por isso” ou se “saberemos extrair da
nossa história os tesouros de imaginação, de criatividade necessários para
anunciar o Evangelho a este mundo em transformação”.
Igreja próxima e concreta
No
segundo capítulo, a carta pastoral aponta o exemplo de Antioquia para a
edificação de uma Igreja tipicamente local, próxima e inclusiva. Sendo uma
cidade importante do império, rica e cosmopolita, a comunidade cristã aí
nascente soube viver e testemunhar o Evangelho perante toda a diversidade
cultural e religiosa que a rodeava. O anúncio de “alguns discípulos anónimos”
foi eficaz ao ponto de converter “grande número”, ainda mais aumentado com a
chegada dos apóstolos Barnabé e Paulo. Nesta Igreja, confirmada e consolidada
pelos apóstolos, rapidamente frutificaram os diversos ministérios inspirados
pelo Espírito Santo e surgiram as atitudes naturais dos cristãos: a vocação
missionária que leva a ir ao encontro de outras comunidades, a celebração
comunitária do culto e a comunhão fraterna. Tudo isto “num terreno novo” que
obrigava a superar “barreiras culturais e raciais entre judeus e gentios” e à
“tradução da mensagem cristã nas coordenadas culturais do mundo greco-romano
diferente da cultura hebraica”.
Esta
“inculturação” da fé “está a indicar a toda a Igreja um modelo de comunicação
do Evangelho e de vivência da fé em circunstâncias do lugar, do tempo e da
cultura”, considera D. António Marto, concluindo que uma diocese “não é uma
realidade abstrata”, mas “nasce, cresce, toma forma e corpo em toda a parte em
que homens e mulheres, pela fé e pelo batismo, recebem o dom do Espírito,
acolhem a Palavra do Evangelho, celebram a Santa Eucaristia e os sacramentos da
graça de Deus, vivem o amor fraterno, reunidos à volta do ministério apostólico
do bispo com o seu presbitério”.
Este
carater local, próximo e concreto ganha especial expressão na paróquia, “Igreja
enraizada num lugar, presente no meio das casas dos homens, mais próxima à vida
das pessoas” e, por outro lado, “célula viva da Igreja diocesana” que “só
encontra a sua plena realização na comunhão com ela (...) através do ministério
do bispo”.
“Verificamos,
contudo, que grande parte dos fiéis valoriza mais uma comunidade de
proximidade: a paróquia, o movimento, o grupo, a congregação religiosa e
esquecem ou até ignoram a sua pertença afetiva e efetiva à Igreja diocesana”,
lamenta o Bispo, sublinhando a oportunidade deste ano para “despertar a
consciência diocesana e viver em Igreja amando-a mais e melhor”. E deixa alguns
exemplos: “realizar uma semana diocesana em cada paróquia; uma peregrinação de
cada vigararia à Catedral com celebração presidida pelo bispo diocesano; um
congresso teológico-pastoral; catequeses sobre a Igreja local; participação nos
eventos de carácter diocesano (assembleia no início do ano pastoral, ordenações
sacerdotais, peregrinação diocesana a Fátima, festa do Corpo de Deus...);
oração pelas vocações sacerdotais, a oração pelo bispo na celebração
eucarística, fonte primeira de comunhão entre ele e a sua Igreja”.
Sair, escutar e festejar
A
vocação missionária da Igreja é desenvolvida como corolário da reflexão, no
último capítulo da carta pastoral. Reconhecendo que a Igreja “está a viver um
envelhecimento, com sinais de cansaço e de resignação pastoral, de introversão
eclesial, de timidez no testemunho evangélico, de falta de coragem para
experiências novas”, o Bispo diocesano defende o “voltar às fontes” para
atingir a desejada “renovação”, centrada em “três verbos-chave no pontificado de
Francisco: sair, escutar e festejar”.
Assim,
em primeiro lugar, é preciso “uma Igreja em saída” e “cada vez mais próxima das
necessidades das pessoas, também dos mais afastados que se sentem postos à
margem, uma Igreja próxima das famílias em dificuldade, próxima dos jovens, dos
pobres e dos feridos da vida”. Esse é o “estilo pastoral” defendido pelo Papa e
que D. António Marto quer adotar: “sentir solicitude para com todos e ir ao seu
encontro como o bom samaritano, que não passa ao lado, mas se aproxima e cuida
do homem caído, ferido e descartado”. Uma Igreja que “não espera que a gente
venha, mas vai procurá-la onde ela vive para escutar e dialogar, abençoar e
encorajar, partilhar as suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias,
perplexidades e dúvidas, interrogações e aspirações”. A celebração cuidada do
Dia Mundial dos Pobres, a 19 de novembro, será uma das propostas, bem como um
maior acompanhamento das experiências missionárias que partem da Diocese, como
é o caso da missão na diocese geminada do Sumbe, em Angola.
O
segundo verbo – escutar – implicará “a familiaridade com a Palavra de Deus”,
pois “só quem se coloca primeiro à escuta da Palavra é que pode depois
tornar-se seu anunciador”. Para isso poderão contribuir iniciativas como a
“lectio divina”, a oferta massiva do livro dos Atos dos Apóstolos em edição de
bolso e o Retiro Popular na Quaresma. Implica, também, “escutar o Espírito”,
promovendo o enriquecimento da vida espiritual, bem como escutar o outro, “como
expressão de relação fraterna feita de atenção, de acolhimento, de
disponibilidade, de diálogo, de partilha de alegrias e dores”. Este é “um
aspeto urgente numa sociedade de relações fugidias e frágeis, de solidões, de
abandonos, de incompreensões e tensões, de descartáveis e excluídos”, refere o
Bispo, propondo o combate à indiferença com uma “cultura do encontro e da
comunhão”. Concretamente, pensar em serviços locais de “acompanhamento e
aconselhamento espiritual” que contribuam para que cada comunidade cristã seja
“casa da fraternidade, onde todos e cada um se sinta acolhido, escutado,
respeitado, compreendido, amado, acompanhado, perdoado, ajudado e encorajado a
viver a vida boa do Evangelho”.
Por
fim, festejar. “A Igreja em saída missionária deve redescobrir a importância da
dimensão festiva para a vivência da fé e para a evangelização”, escreve D.
António, colando-se à exortação do Papa Francisco de evitarmos ser cristãos de
“Quaresma sem Páscoa” ou com permanente “cara de funeral”. Este será um ano
para promover “celebrações sacramentais em que festejamos particularmente a
presença próxima de Cristo ressuscitado e os seus dons sacramentais”, tendo o
domingo como centro, mas também “nas expressões da piedade popular, nas
atividades pastorais, em várias situações significativas da comunidade cristã e
da vida pessoal e familiar (aniversário, matrimónio, novo nascimento, uma
despedida, uma nova chegada)”. Também as “festas religiosas populares em honra
dos padroeiros das comunidades cristãs” deverão ser repensadas neste objetivo
de manifestar “sempre melhor a alegria da fé e da fraternidade humana e
cristã”. Neste ano pastoral, um momento especialmente rico, a nível diocesano,
será a grande Festa da Fé, de 15 a 17 de junho, em Leiria.
O
15.º e último ponto da carta pastoral aponta alguns “traços da paróquia numa
Igreja em saída”, plasmados do discurso do Papa Francisco aos participantes na
Assembleia Pastoral Diocesana de Roma, em 2014. Resumindo, pede-se que a
paróquia: “saiba acolher com sentimentos maternos, mostre sempre ternura com todos,
cultive a memória de povo de Deus, saiba olhar o futuro com esperança, trate os
homens com a paciência que permite suportar-se um ao outro, tenha um coração de
imensa abertura, possua a doçura do olhar de Jesus, tenha maternalmente a porta
sempre aberta a todos, seja capaz de falar as linguagens dos jovens, se empenhe
em estar próxima das crianças e dos jovens que sofrem a orfandade, que não têm
um modelo de família, esteja em condições de captar nos diversos ambientes de
vida (desporto, novas tecnologias, etc.) as possibilidades de anunciar o
Evangelho, seja audaciosa em explorar sempre novos caminhos, novas linguagens e
abordagens para difundir o anúncio da salvação, tenha párocos próximos da
gente, dispostos a responder e a fazer-se próximos em qualquer momento de
necessidade, crie, dentro de si e para além de si, o sentido da gratuidade”.
É
este o programa a concretizar em 2017-2018 pelas comunidades paroquiais e pela
Diocese “com os seus múltiplos movimentos, comunidades, serviços e
instituições”.
Oração para o ano jubilar
Nós
Vos louvamos ó Deus, nós vos bendizemos, Senhor,
pela nossa Igreja diocesana e pelo amor com que a conduzistes
ao longo destes cem anos após a sua restauração.
Nós Vos damos graças pelos dons com que a agraciastes,
pelas tantas testemunhas de fé, amor e santidade que nos precederam.
Humildemente Vos pedimos perdão pelos nossos pecados,
que ofuscam a beleza da Vossa Igreja.
Dai à nossa Diocese e suas comunidades um espírito missionário
capaz de despertar o entusiasmo da fé
e de suscitar vocações laicais, sacerdotais e à vida religiosa.
E Vós, ó nossa Mãe e Padroeira, Senhora de Fátima,
abençoai esta vossa Diocese
e guiai-nos no caminho que conduz até Deus
e ao encontro dos irmãos sobretudo dos mais frágeis e pobres.
Ajudai-nos, ó Mãe, a ser fermento do Evangelho da alegria e da misericórdia
nesta nossa terra por Vós tão amada